Estive recentemente em Lorena, interior de São Paulo, onde passei uma parte da infância (1981-1984) e de onde trago comigo belas e tristes lembranças dos tempos em que minhas preocupações maiores eram tirar boas notas e não me envolver em confusões, dentro ou fora da escola. Voltei à “Gabriel Prestes”, onde fui bem recebido pelo corpo técnico e tentei acessar os arquivos escolares daqueles anos “dourados”, mas fui impedido pela burocracia de ter em mãos as minhas fichas de quando estudei a 2.ª, a 3.ª, a 4.ª e a 5ª. séries do antigo Primeiro Grau!
 
Gostaria apenas de ter lido os nomes completos de meus professores e de antigos colegas, para, quem sabe, tentar encontrá-los, saber como estão, o que fazem hoje em dia. Passados mais de trinta anos em que vivi em Lorena, sei que talvez nem todos tenham a mesma curiosidade de “escarafunchar” o passado e nem de realizar um possível reencontro. Daqueles tempos eu mantenho amizade, via redes sociais, com Ana Paula, Maria Bethânia, Anton e Carlos Renato, mas gostaria de saber por onde andariam (se ainda vivem) Carlos Victor, Osvaldo, Emiliana, Tânia, Vanderlei (o Aquino e o Sales), Ana Tereza, Ana Cláudia, Alecsandra, Marcelo e tantos outros que dividiram comigo a meninice.
 
Já reencontrei alguns daqueles que foram meus melhores amigos, mas a decepção foi grande ao constatar que a importância que eu dera ao fato de estar diante de alguém que fizera parte (importante) da vida do menino que fui, era apenas minha e não do Outro... Bom, sem me lamuriar por isso, penso que todos nós deveríamos ter direito ao acesso aos nossos documentos escolares, especialmente se ali estão registradas anotações sobre nossos comportamentos, além de notas e assinaturas. Mais do que “bisbilhotarmos” nossas vidas em tempos de escola (e também a dos Outros) o passado revelado por esses documentos talvez nos ajudasse a compreender situações e atitudes que no momento em que foram vividas não puderam ser refletidas.
 
Ter me deslocado de Macapá, Amapá, até o interior de São Paulo e encontrado os arquivos da escola fechados à consulta pública me fez perguntar: por que, afinal, guardamos tanto papel (velho)? A antiga Escola Estadual de Primeiro Grau “Gabriel Prestes”, a minha escola da infância, completou mais de 110 anos de funcionamento e guarda um verdadeiro tesouro em seus arquivos. Uma parte do que eu e meus colegas de escola fomos encontra-se registrado em atas de resultados finais, em fichas de observação e outros materiais que, se cuidadosamente manejados, podem ajudar a reconstruir trajetórias e a compor um quadro interessante por todos aqueles que se interessam pela história da Educação escolar. Na “Gabriel Prestes” eu aprendi a ler e a escrever com a “tia” Nilda, a aperfeiçoar a leitura e a escrita, além da Matemática, com as “donas” Odila e Célia. Meus professores da 5.ª série, muitos deles ainda vivos, foram importantes em minha formação inicial: Márcio (Geografia), Brasilina (Português), Beverley (Matemática), Laércio (Educação Física), Eleny (Educação Artística), Vera (História) e todos os outros, cujos nomes não estão retidos na lembrança imediata.
 
Assim, espero poder voltar em breve à Lorena, munido de pedidos de autorização e de outros documentos que me possibilitem olhar para o meu passado escolar. Oxalá que, um dia, todos tenhamos o direito ao passado e à memória!
 
 
Giovani José da Silva