Encontro-me na Europa desde o último dia 13 de fevereiro, quando desembarquei em Lisboa e visitei Portugal pela primeira vez. O motivo da viagem? Desconfio que ter aceitado os convites das universidades de Santiago de Compostela, La Coruña (Espanha) e Turim (Itália) foi apenas o pretexto de que precisava para sair um pouco de certas “zonas de conforto”, deslocar-me “um pouco de mim mesmo”, observar-me e melhor perceber-me (verbo tão caro aos portugueses!). Não, caros leitores, o texto da semana (espero) não terá o mesmo tom melancólico dos últimos escritos da coluna. De alguma forma tenho percebido que a viagem interior a que me propus há algum tempo não terá fim e que no meio do caminho, quem sabe, encontrarei alguém para dividir os sonhos (e as dores) de uma vida que ainda não completou meio século. Passei por Fátima, que este ano comemora o centenário das aparições da Virgem Maria a três crianças camponesas (Lúcia, Francisco e Jacinta) e agora estou em Santiago de Compostela. Terra de peregrinação, de oração e de encontro consigo. Vim atendendo a compromissos acadêmicos, mas creio ter um compromisso maior, de dizer a verdade sobre o que anseio da vida, o que espero poder vir a ser, sem me esquecer de minhas raízes, origens sobre as quais já escrevi com tanta honra a vocês. Lamento por ter decepcionado, ao longo da vida, pessoas amadas e, também, por não ter correspondido ao amor de algumas outras. O fato é que cresci e sobrevivi tentando sempre atender às expectativas de outros, servindo a tanta gente a minha volta que fui perdendo o chão do que realmente gostaria de fazer com a única vida (ao que eu saiba, até agora) de que disponho para viver. Não procuro ser feliz, como diria o psicanalista Contardo Calligaris, a quem admiro tanto, mas busco ter uma vida interessante! Isso não significa ter uma trajetória “extraordinária”, repleta de façanhas, de proezas, mas ter uma história que realmente valha a pena ser plenamente vivenciada, de preferência ao lado de alguém que queira a sua companhia, apesar de tudo, apesar de nada! Quem me olha a certa distância, superficialmente, só consegue enxergar aquilo que quer ver ou o que eu permito que veja: um profissional bem-sucedido, escritor de livros e artigos científicos, ganhador de prêmios e homenagens, filho dedicado, irmão altruísta, professor ciente de seus horários e obrigações. Alguns me acham “metido”, “arrogante”, “prepotente”, “mandão”, "vaidoso". Creio que esses tenham (parcialmente) razão. Outros me veem como aquele cara que se tornou um “pequeno burguês”, professor universitário de classe média, que não se envolve em assuntos “políticos” (como se viver não fosse um ato político!), que não desfia ou destila aos outros suas próprias convicções ideológicas, religiosas, etc. Há aqueles, ainda, que desejariam que eu fosse um “doce” de pessoa, um “cordeiro” que dissesse “amém” a tudo e que não manifestasse, da forma como manifesto por vezes tão veementemente, minhas opiniões, ideias e contrariedades. Posso ser tudo isso e mais um pouco, mas garanto ser muito mais. Muito prazer, Giovani José da Silva, filho de João José da Silva e Gregoria Ramona Torres Silva, 44 anos e 7 meses, professor, antropólogo, paulista e paulistano, um homem carente em busca do amor verdadeiro, que chora, que é um pouco afeminado (como não seria, convivendo desde sempre com tantas mulheres e com tão poucos referenciais masculinos?), que já teve dúvidas sobre a própria orientação sexual, que já não tem tantas, que se incomoda com as injustiças presentes no mundo, mas que não usa o Facebook para ficar em paz com a própria consciência (ainda que momentaneamente), que já sofreu muito “bullying” na escola e que ainda sofre na universidade em que trabalha. Sou tudo isso e posso mostrar mais, do meu mundo interior de luzes e sombras, para aquele (sim, no masculino, sem meias palavras ou rodeios) que se dispuser a me acompanhar nesta longa estrada da vida. Alguém para dividir os sonhos (e as dores) comigo?