Ainda na Espanha, desta vez em Madrid e tendo saído de Santiago de Compostela depois de passar uma semana em terras galegas, decidi escrever sobre um encontro muito especial. Foi com um homem de meia idade, aparentando ser mais jovem do que era de fato, sobretudo sem a barba/ o cavanhaque. Sem querer fazer mil perguntas logo em um primeiro encontro, a fim de não o assustar, decidi saber o que pensam/ sentem as pessoas que convivem/ conviveram com o dito cujo. Para a irmã mais velha, o homem em questão fala demais e desnecessariamente e por isso ela não gosta muito de conversar com ele, já que, segundo ela, seus comentários já vêm prontos, “em uma caixinha”. Uma amiga me disse que ele é “cheio de defesas”, que é muito inteligente e profissional competente, generoso com os amigos, cuidadoso com as palavras e atitudes. Uma ex-amiga (sim, ele tem aqueles que já não quiseram mais sua amizade) contou-me, certa vez, que o tal homem gostava de fazer brincadeiras, mas que não gostava de ser alvo das brincadeiras de outros. Enfim, convoquei um monte de gentes para saber mais daquele jovem senhor com cara de árabe, pois, afinal, eu estava interessadíssimo nele. Ouvi vozes do passado e do presente, alguns chamando-o de “mandão/ ditador”, outros dizendo que ele era um “mentiroso” inveterado. Ouvi, inclusive, que aquele homem não era de confiança, era traiçoeiro e que acreditava nas próprias mentiras. Comecei, então, a ficar com medo e receei conhecê-lo melhor. Afinal, quem quer um amigo (e quem sabe algo mais) com tais características? Lembrei-me das palavras de uma querida mestra e decidi enxergar o homem somente com os olhos do coração/ da emoção/ do sentimento e não de maneira fria, impessoal e racional. Descobri um menino que sofrera todo tipo de bullying na infância, que ouvira piadinhas pelos corredores da escola e que por isso se retraíra. Percebi que estava diante de alguém marcado, física e emocionalmente, pela morte do pai e de tudo o que se passara a partir daquele triste evento. Ocorre que vi outro lado do menino, ao qual poucos prestaram/ prestam atenção: extremamente zeloso e responsável, especialmente com a irmã mais nova a quem protegia, dando-lhe as mãos para irem juntos à escola. O menino que se transformara em um homem por vezes duro e arrogante preocupava-se com o destino de sua pequena família nuclear. A mãe, que tinha predileção pela tal irmã mais nova, sofria com a ausência do marido e, por certo, quando via aquele rebento tão parecido com o seu grande amor, sentia saudades, muitas saudades! A irmã mais velha, a que dissera que não gostava de conversas, era destemida e voluntariosa, características admiráveis para o menino. Os melhores amigos daquele homem que eu desejava tanto conhecer foram/ eram: na infância, os livros; na adolescência e juventude, pessoas mais do que especiais com quem fizera teatro e sonhara um mundo melhor para todos; na fase adulta, bem, na fase adulta o homem se trancara e se mantivera um tanto isolado, às vezes “perdido” no meio do mato, sozinho ou acompanhado. Tivera alguns grandes amores e sentira o amor maior que uma pessoa poderia oferecer a outra (obrigado, Edma!). A outros ele amara, mas não sentira que tivesse sido correspondido à altura e que, tampouco, correspondera (obrigado, Renato, Zé, Carlos Alberto e Jaime!). Também fora ludibriado e tivera sua inocência arrancada de forma tão vil (obrigado, André!). Enfim, chegara o momento de amar e de ser amado e eu estava disposto a dizer àquele homem com quem me encontrei que eu, Giovani José da Silva, o amarei com todas as minhas forças, por todos os dias da minha vida; amarei ao Giovani, com todos os seus defeitos e qualidades, pelo que ele era/ foi/ é/ será. Que assim seja!