Enquanto estive na Espanha tive a oportunidade de conhecer diferentes lugares daquele país, visitando Zaragoza, Barcelona e Bilbao, dentre outras cidades. Porém, a viagem mais encantadora ocorreu quando decidi visitar o país vizinho, a França, especificamente um local: a cidade mariana de Lourdes. Trata-se de uma pequena comuna francesa situada no departamento dos Altos Pireneus, região dos Médios Pireneus,contandoatualmente com pouco mais de 15.000 habitantes. Ali, em 1858, numa pequena gruta junto ao riacho de Pau, teria aparecido algumas vezes a Virgem Maria a uma menina de nome BernadetteSoubirous (1844-1879). Após a aprovação da Igreja Católica, Lourdes tornou-se um dos pontos de devoção de maior destaque em toda a França.
 
Hoje em dia, o Santuário de Lourdes é um dos grandes centros de peregrinação do mundo católico, à semelhança de Fátima em Portugal eda Basílica de Nossa Senhora Aparecida no Brasil. E lá fui eu visitar a famosa gruta (Massabielle) das aparições, não imaginando que naquele dia 13 de fevereiro (dois dias depois da festa dedicada à Nossa Senhora de Lourdes) eu viveria intensas e incríveis emoções, começando pela chegada de trem debaixo de uma forte chuva na noite do dia anterior. Logo cedo, após o café da manhã no Hotel Saint Etienne (que eu percebi, depois, ficava exatamente acima da casa paterna de Bernadette) desci o Boulevard de laGrotte e me deparei com o majestoso santuário, ainda vazio e sem a multidão que horas depois, com pessoas vindas de todas as partes do mundo, tomaria conta dos diversos espaços disponíveis. A bela construção, contudo, não era o objetivo maior da minha viagem até aquelas paragens: eu queria ver e sentir a gruta, estar nela e beber da água cristalina que jorra da fonte que existe desde as aparições, segundo a tradição, um dos muitos milagres atribuídos à Virgem Maria.
 
Naquele dia eu me despi de toda a vaidade acadêmica: não era nem o professor, nem o antropólogo quem estava ali, apenas mais um dos milhares de fiéis que se encontravam naquele lugar de paz e de serenidade. Fiz o caminho dos peregrinos (2,5 quilômetros de andanças pela comuna), assisti a missas em cinco idiomas diferentes (Russo, Polonês, Francês, Inglês e Italiano), acompanhei o rosário em Espanhol, tive contato com dezenas de pessoas de todos os continentes, exercitei meus conhecimentos em Francês e Espanhol, além de tentar entabular uma conversa em Italiano.
 
O momento mais bonito, sem dúvida, foi a ajuda aos milhares (sim, milhares) de cadeirantes e a outros deficientes físicos que estavam aguardando, pacientemente, o momento de entrarem em uma das inúmeras piscinas de água da fonte, segundo muitos dos presentes, milagrosa! E eu, em minha “santa ignorância”, acreditava que os que transitavam pela área do santuário somente desejavam a realização de algum “milagre” ou uma “cura instantânea”... Foi quando um senhor italiano, franzino e com sérios problemas de locomoção, me disse com os olhos cheios de lágrimas e de fé, em bom Espanhol: o que eu venho buscar aqui, rapaz? Eu busco uma paz de espírito que só um lugar como esse proporciona a uma pessoa. Eu quero ser alguém melhor, apenas isso! Simples assim, Lourdes ficará para sempre em minha memória e espero um dia poder voltar à Massabielle, lugar de devoção e de extraordinária beleza pela simplicidade dos homens e mulheres que ali vão para encontrarem a si mesmos, perdoarem-se e seguirem em frente! Merci, Lourdes.
 
 
Giovani José da Silva