Desde o início da minha vida de repórter, há 40 anos -comecei muito cedo, tentando aprender um pouco mais a cada dia que passava e, ainda hoje, estou em pleno aprendizado-, fui instruído a chamar os entrevistados, principalmente autoridades constituídas, usando os pronomes de tratamento "senhor", "senhora" e, em casos especiais, "Vossa Excelência".
 
Gostasse ou não de quem entrevistava, era meu dever manter o respeito e, acima de tudo, a distância regulamentar entre repórter e entrevistado.
 
Certa feita, uma jovem e simpática repórter perguntou ao governador Jânio Quadros: "O que você acha sobre tal assunto?" Com aquele jeitão que era peculiar a ele, Jânio parou, fez um breve silêncio e respondeu mais ou menos assim: "Cara senhorita, não tome certas liberdades comigo, pois assim pensarei que também poderei tê-las com a dama que me entrevista."
 
Risos generalizados. Jânio era uma figuraça.
 
Há pouco [início da noite do domingo, 15 de março de 2015], em uma entrevista coletiva de dois ministros da presidente Dilma Rousseff, uma colega repórter perguntou algo assim: "O que vocês [que integram o Governo, inclusive a presidente Dilma] têm a dizer sobre as manifestações populares realizadas nas ruas de todo o Brasil neste domingo?"
 
Não sou e jamais fui professor de nada. Repito que, a cada dia que passa, aprendo um pouquinho mais. Sem falsa modéstia. Os computadores, as máquinas fotográficas digitais, seus programas, os "smartphones" e "tablets" estão aí e não me deixam faltar com a verdade, a respeito desse aprendizado contínuo. Sou dos velhos e bons tempos das máquinas de datilografar, quando podíamos falar nas redações, sem medo de sermos "politicamente incorretos" ou "racistas": "Pare de conversa e bata tudo nas 'pretinhas', pois o secretário de redação tem pressa para publicar a notícia".
 
Acho que, realmente, devo estar ultrapassado. A esclerose causada pelo envelhecimento natural do corpo -o cérebro continua muito bem, obrigado!- deve estar me afetando aos poucos.
 
Afinal, insisto em usar o pronome de tratamento "o senhor", "a senhora", para entrevistar quem quer que seja, da extrema esquerda, passando pelo Centro e indo até a extrema direita, anarquistas e outros.
 
No meu tempo, antes da escola da vida e das universidade de Jornalismo, nós aprendíamos em casa que "respeito é bom e não faz mal a ninguém". Sempre chamei a minha mãe de "senhora" e o meu pai de "senhor".
 
Desculpem pelo desabafo. Deve ser, realmente, "implicação chata" de um velho jovem ranzinza e esclerosado."Bater nas pretinhas": ato de tocar, "bater" no teclado de cores pretas da máquina de datilografar. 
 
Campinas, SP, ano de 1977: a primeira entrevista que fiz com um cantor e compositor, para a rádio Clube de Corumbá (Foto: © Copyright Arquivo pessoalArmando De Amorim Anache / Pantanal News ® - Jun 1977 - Todos os direitos reservados - All rights reserved)