Aline Sampaio, 17, estudante, dona de um corpo escultural, nem precisava entrar numa sala de bate papo na internet para buscar emoções. Nunca fez parte do grupo de pessoas que, segundo pesquisas, não consegue manter um nível de relacionamento pessoal, e acabam buscando uma espécie de “satisfação” na realidade virtual. Mas, talvez pela curiosidade ou pela falta de emoções mais fortes, numa tarde chuvosa, fria, resolveu buscar uma experiência. Mal sabia que seria a pior coisa de sua vida. Ao encontrar algum “encantamento”, mesmo numa realidade aparentemente tão impessoal, por um desconhecido, começou uma série de contatos que contabilizariam, mais a frente, horas e horas e conversas, marcadas por informações que se revelariam, com o tempo, puramente fantasiosas. Perdeu, tempo, oportunidades e o encantamento. Além de ter corrido o risco de perder a própria vida, pois o homem galanteador do outro lado, que se apresentava como um jovem de olhos azuis, possuidor de um bom emprego e, por isto, de uma boa condição financeira, nada mais era do que um cinquentão, aposentado por invalidez numa das pernas e, pasmem, com histórico de pedofilia.
 
A história de Aline é a história de muitas meninas que fazem do virtual o seu lugar comum. Ingênuas ou desatentas, acabam sendo presas de perigosos predadores que usam a rede de computadores para a satisfação dos desejos mais perniciosos, muitos dos quais ultrapassando a própria dimensão do virtual. Com estratégias bem elaboradas de aproximação, capazes de desmontar as resistências mais fortes ou produzir efeitos quase imediatos nas pessoas mais vulneráveis, estão sempre à espreita, principalmente em chats de bate papo, usando várias faces, qualquer gênero, dependendo da circunstância. Foi assim com Monique S., 21, que apaixonou-se perdidamente por alguém que se utilizou do nick-name Leonardo, postando fotos de um corpo atlético, mas que revelou-se, um dia, depois de horas e horas de conversas, juras e promessas, como sendo uma funcionária da mesma empresa multinacional onde trabalhava, e que tinha uma queda por mulheres. “Fui até educada ao descobrir, por respeitar a opção de gênero, mas, para mim, sinceramente, nunca rolaria”, disse, depois de uma noite de longa conversa, regada a um rito impressionante de sedução e pela surpresa da revelação.
 
Tainara Velasquez, 19, vivenciou uma experiência que, segundo estudiosos, tem se tornado cada vez mais comum.  Casada, mãe de uma linda filha de 2 anos, tocada pela mesma curiosidade de Aline, entrou num conhecido chat de relacionamentos. Embora não vivesse o melhor dos casamentos, não podia queixar-se na época em que conheceu Rogério, que revelou ter 32 anos, o que mais tarde se confirmaria – algo incomum – logo na primeira incursão por esta modalidade de diversão, se é que assim pode ser chamada. Foi numa noite de verão, em que o marido estava em viagem. Confessa que resistiu por mais de uma hora aos vários assédios, pelo reservado da ferramenta. Chegou até a rir muito das coisas que rolavam em aberto. Este abordante, contudo, entrou na sua agenda quando ela resolveu sair de sua zona de conforto. Foram vários e vários contatos, posteriormente, até que as meras conversas, sobre coisas triviais, avançassem para um terreno mais perigoso, tocando o coração. Daí para um encontro e outros foi um passo. Até que o esposo e a filha começaram a ficar num segundo plano. Todos os vínculos se romperam, tempos depois. Deixou sua casa pelo outro, perdeu a guarda da filha e depois descobriu que o outro não era o Don Juan que aparentava ser. Quis voltar ao primeiro amor, mas não teve volta.
 
Essas são algumas histórias que serão contadas, aqui, no Pantaneiro, semanalmente, aos sábados, na série “Perigos que rolam no mundo virtual”. Se você tem uma história para contar, contate-nos pelo email: claudiusjustus@gmail.com