Bispo foi morto a golpes de pau e pedra.
O chinelo e a camiseta estão no mesmo lugar que o taxista José Bispo de Oliveira, 68 anos, deixou na sexta-feira passada, quando saiu de casa para fazer a corrida que seria a última de sua vida. O objetos no canto da sala de jantar servem de lembrança para os familiares que, ainda em estado de choque com a morte, os contemplam e os mantêm intactos, como se Bispo fosse voltar.
 
Homem de hábitos regulares, tinha várias manias, como deixar tudo pronto para fazer o café em uma máquina elétrica do dia seguinte. Ele fazia isso porque, quando acordava na manhã seguinte, apenas ligava a máquina enquanto se arrumava para ir trabalhar, sem perder tempo para começar o dia. "O cheiro daquele café ainda fica na memória da gente", comentou a esposa Maria de Lourdes Souza de Oliveira, 66 anos.
 
Ela e as duas filhas, Ana Lúcia de Oliveira e Lucimara Fernandes de Oliveira, receberam a equipe do Pantaneiro nesta segunda-feira, oportunidade em que expressaram os sentimentos de carinho pelo homem que tinha presença marcante em suas vidas, assim como demonstraram muita tristeza ao lembrar das atrocidades que ele sofreu antes de morrer. Tudo o que elas querem agora é justiça.
"A família quer justiça, pois o que aconteceu com ele sempre acontece e vai continuar vitimando pessoas trabalhadoras", disse Ana Lúcia.
 
O táxi não pertencia à vítima, mas sim ao senhor Manoel Damasceno, proprietário do Bar da Praça. A ferramenta garantia renda extra à família que vivia praticamente da aposentadoria de Maria de Lourdes. O dinheiro não era muito, mas permitia que levassem uma vida sem grandes preocupações. 
 
Viagem sem volta
 
Era por volta das 17 horas de sexta-feira quando o taxista saiu de casa para fazer uma corrida a pedido de dois jovens que queriam ir para uma fazenda. Os autores ligaram em seu celular na tarde daquele dia, quando ele estava dormindo ao lado da esposa. Antes de sair para encontrar os passageiros, passou na Banca do Feitosa, no Mercadão Municipal, bebeu café, abasteceu o carro e seguiu tomando rumo  ignorado.
 
"Ele costumava chegar em casa entre 22 e 23 horas todos os dias. Quando saía do ponto de táxi, ia no Bar da Sandra [Vila 40], onde tinha sua mesa cativa. Todos de lá também haviam sentido sua falta", disse Ana Lúcia que, ao notar a demora do pai, foi às ruas procurá-lo, mas sem imaginar que o pior estava para acontecer ou, então, já tivesse acontecido àquela altura.
 
Às 23h30 ela foi até o Bar da Sandra, mas já havia fechado e somente a proprietária e a funcionária estavam lanchando. Elas disseram que ninguém tinha visto Bispo  e que, inclusive, sentiram a falta dele naquela noite. Como ao longo da madrugada o homem não retornou, mãe e filhas acionaram as forças policiais e começaram a divulgar a imagem do taxista em redes sociais e grupos de WhatsApp.
 
Na tarde de sábado, chegou a notícia que ninguém queria ouvir. Policiais militares encontraram o carro da vítima com dois suspeitos em uma feira na cidade de Miranda. Abordados, os indivíduos confessaram o latrocínido (roubo seguido de morte) do idoso e apontaram o local onde o corpo estava, em uma mata na zona rural. O desespero tomou conta da família. 
 
Depois de 40 anos trabalhando como taxista, Bispo morreu fazendo o que mais gostava. "Ele não havia conseguido se aposentar ainda. Estava rezando para se aposentar [...] teve um tempo que ficou sem trabalhar e se entristeceu muito, pois era o que mais gostava de fazer", disse Lucimara. No momento, mãe e filhas buscam apoio por meio de amigos e desconhecidos que comparecem para se solidarizar.

Fonte: Da Redação


Deixe seu comentário