“... Se eu gostava de usar anéis de dama nos meus dedos é que às vezes queria julgar que as minhas mãos eram de princesa e que eu era, pelo menos no gesto das minhas mãos, aquela que eu amava...” Livro do Desassossego – Fernando Pessoa.

O importante é perceber... é brincar, o importante é encarar!

A gente vem de sonhos... a gente supera abandonos, a gente teima, queima, enfrenta, se lasca, se dilacera, sofre e chora, cicatriza e segue tentando...

Novo ano, com ele, clichês, planos, enganos. Quantos renascimentos há em nós? Quem está disposto, mansamente, a ouvir a nossa voz?

Despretensiosamente é a entrega, o dom inocente, raro, coerente, a capacidade humana, unicamente humana que, num instante universal de boas intenções, comemora, deseja bons agouros, ilumina o mundo com bondades, de branco, com salvas pirotecnas, como se, mais que um cronômetro, mais que um calendário, a vida, a partir de um primeiro dia, um horário, fosse zerada e a gente, mais uma vez, a atravessa... repetimos, seguimos, em floridas ou em tortuosas estradas...agitados ou sem nada, seguimos.

Pode haver uma lua, quem hoje contempla o céu?

Pode haver tristezas e carências demasiadas num olhar, quem fixa o olho no outro, quem, na atualidade, toma iniciativas para ajudar?

Pode haver necessidades de dialogar, estão nas redes sociais o jeito mais dissimulado de se enganar e, só o balanço da rede, feita no tear, é que pode a vida suavizar.

Pode haver certezas a se desmanchar, pode a vida dar guinadas inesperadas, a gente pode subir ou despencar...a vida requer gratidão, há tanto nela para celebrar.

É a inocência, própria das crianças e dos seres humanos, ditos especiais, de fato, as referências grandiosas que nos fazem acreditar que existe pureza e é onde a gente se entrega, desarmados, na maior plenitude, sem nada questionar.
Na continuidade ou no continuismo dos anos, colhendo indubitavelmente o que plantamos, a vida floresce ou murcha e o amor se eterniza na atemporalidade sagrada, vencendo todos os danos
" Mas a vida é real e de viés", a gente pisa na jaca e mete os pés, na delícia da imperfeição que é "ser humano"!