Atemporal...

Lamaçal no peito, atoleiro arterial
Doar-se por inteiro, pairar no punhal
Na travessia do deserto, desejo oceânico, camuflar-se num pirizal
Cataclisma intencional, ressurgir, iludir, provocar vendaval
Chorar de cara vazia, sob o céu há asfixia, desacreditar no mal
Abrigar-se na paixão, titubear na contra mão, pendurar os sonhos no varal
Perceber nosso tamanho, reerguer-se na própria força descomunal
De asas quebradas, cauteloso plano de voo, decolagem magistral
Rasantes de um valente, intempéries presentes, pouso fatigado no quintal
Obscuro abrigo, centrar-se no umbigo, dor gradativa em espiral
Juntar os cacos, remendar os pedaços, secura na alma, coragem matinal
Digerir a ingratidão, arrancar a vida com a mão, ressurgir fatal
Ninho feito com poesia, ajeitar-se no espelho, ponto final
Sair pela vida sem buscar guarida, encarar a vida real
Carregar as verdades, acreditar na doçura, abstração irreal
Bagagens pesadas, desolamento na calçada, traço poético surreal
Poeta escancara dor em poesia, realidade ficcional, desassossegos... ser abismal.