Hoje pela manhã, preparando-me para me apresentar à cerimônia da 6ª Edição do Prêmio Professor Rubens Murillo Marques, da Fundação Carlos Chagas (sobre a qual escreverei na próxima semana), em São Paulo, capital, desatei a chorar. Não era de saudades ou de emoção: apenas a constatação de que lido muito mal, ainda, com a frustração causada pela rejeição. Não, Giovani, por mais prêmios que você ganhe, por mais que se esforce para conquistar a simpatia e a admiração de quem o rodeia, nada disso te fará sofrer menos por ter sido rejeitado. Rejeição! Como não a sentir depois de um ano como este, que logo termina, quando sofri a dor de ser rejeitado por pessoas a quem amo/ amei? Como não pensar que logo após a morte de meu pai fomos despejados de nossa casa, rejeitados por meus avós paternos, ficando a esmo? Ser rejeitado não significa que valhamos menos, apenas que o Outro não nos quer, não nos aceita ou que não deseja a nossa companhia. Simples? Não, nem um pouco. Porém, também não é nenhuma tragédia, embora muitos de nós (eu, inclusive) não saibamos lidar bem com o fato de que por mais que nos esforcemos, nada vai trazer de volta a pessoa amada ou aquela que se foi para (sempre?) a terra dos sonhos. Como explicar que uma amizade de anos se rompa por um motivo fútil ou banal (aos seus olhos, claro!) e que uma “pisada na bola” seja suficiente para que se esqueça tudo de bom que foi feito ao longo do tempo? Por que insistimos em prestar mais atenção aos defeitos (que todos, todos nós temos) do Outro e fechar os olhos para as qualidades, para aquilo que nos faz bem? Me sinto abandonado, como aquele menino que um dia eu fui, e a dor da rejeição me deixou marcas, até mesmo na pele. Por outro lado, como manter o interesse e a atenção de quem já não lhe quer mais? Tornei-me um profissional exemplar, tento ser um bom filho, cuido com carinho daqueles a quem amo. Esqueço-me, contudo, que não importa o que eu faça para agradar, até mesmo passar por cima de coisas que são importantes para mim, nada disso evitará a rejeição, caso o Outro não me ame, caso nunca tenha me amado. Da dor de se sentir abandonado pelo pai, falecido ainda muito jovem em virtude de uma doença que, na cabeça do menino, poderia ter sido evitada ou combatida à dor de ver a pessoa amada indo embora de casa, com as malas prontas, sem uma explicação e com muitas acusações, traço uma história de rejeições que me acompanha desde a tenra infância. Ele/ Ela não vai voltar, Giovani! Não é porque você ganhou mais um prêmio em uma carreira vitoriosa que o pai, a pessoa amada, o pai e a mãe postiços, a amiga de uma década e meia, irão retornar. Eles se foram, de uma forma ou de outra (para sempre?). Rejeição, palavra dura, sentimento que se engole a seco, sem querer. Dela podem brotar muitas reações, algumas muito ruins, além de baixa autoestima. Pode servir também para que percebamos o que queremos e o que não queremos. Não quero ficar chorando em um canto, pensando em quem não me quer ao seu lado, em quem me rejeitou. Não tenho, também, porque pagar com a mesma moeda, a rejeição, a quem não soube demonstrar amor e compaixão por mim. Lição de casa a ser aprendida, caros leitores: aprender a conviver com as dores da rejeição, acreditando que é possível superá-las, cuidando das feridas e cicatrizes, cuidando mais e melhor de quem fomos, de quem somos e (por que não?) de quem queremos ser!