E lá estava eu, na manhã de sexta-feira, dia 18 de novembro último, preparando-me para me apresentar à cerimônia da 6.ª Edição do Prêmio Professor Rubens Murillo Marques, da Fundação Carlos Chagas. Iria receber a Menção Honrosa como promotor de uma das cinco práticas de ensino mais bem-sucedidas em cursos de licenciaturas no Brasil, no ano de 2016. Feliz? Claro que sim, mas como já escrevi na semana passada, desatei a chorar enquanto me arrumava. Não, acalmem-se, leitores, eu não vou falar novamente sobre rejeição, está bem? O fato é que me sentia um tanto “vazio”, pois este ano foi um daqueles em que sofri perdas dolorosas. Enfim, preparado ou não, lá fui eu, acompanhado de minha mãe (Gregoria), irmã caçula (Rita de Cássia) e sobrinha (Bruna Francielle) para a entrega de diploma e de placa a mim conferidos pelo trabalho realizado no primeiro semestre deste ano na Unifap (Universidade Federal do Amapá), no Campus Marco Zero do Equador, localizado na cidade de Macapá. O trabalho, desenvolvido junto a acadêmicos da turma de Licenciatura em História, ano de entrada 2014, foi intitulado “Objetos biográficos de memória: reconhecendo-se como agentes históricos a partir de aulas de prática de Ensino de História”. Basicamente, a experiência de ensino premiada referiu-se ao conjunto de atividades desenvolvidas na Unifap com uma turma de acadêmicos de História, que foi estimulada a estudar a disciplina Seminário de Prática de Ensino de História IV a partir da apresentação e da problematização dos chamados “objetos biográficos” ou “objetos de memória”. Dessa experiência resultaram produções diversas em que os acadêmicos puderam conhecer melhor a si mesmos e ao Outro, além de elaborarem uma interpretação crítica sobre o seu lugar no mundo, no tempo-espaço, em um efetivo exercício de alteridade e cidadania. Foi a primeira vez que trabalhos de Ensino de História chegaram à final e foram premiados e, para a minha imensa alegria, o grande vencedor deste ano foi um projeto desenvolvido na UEL (Universidade Estadual de Londrina), pelas colegas Ana Heloísa Molina e Maria Renata da Cruz Duran. Fui o primeiro a falar para uma seleta plateia no auditório da Fundação Carlos Chagas, em São Paulo, capital e tinha preparado um discurso em que pretendia ser menos técnico e mais emotivo. Por que fiz essa escolha? Não me lembro de nos quase quatro anos em que estou na Unifap ver a universidade que escolhi para trabalhar (e que está abaixo do 160º lugar entre as universidades brasileiras no ranking da Folha de São Paulo) ser apontada como local de trabalhos de excelência, muito menos em minhas áreas de atuação: Ensino de História, História Indígena e Antropologia. De qualquer forma, e ainda que a Unifap tenha ignorado a minha premiação, eu estava lá representando os sonhos e as esperanças de meus alunos da graduação e do mestrado em Ensino de História (ProfHistória). Muitos deles moram em condições precárias, têm dificuldades para se alimentar adequadamente três vezes ao dia (pelo menos), viveram/ vivem em famílias desestruturadas, cercados pela violência e pelo descaso governamental que grassa a capital amapaense. Era por eles, e somente por eles, que eu estava recebendo o Prêmio Rubens Murillo Marques – 2016, com muita honra! Iniciei o discurso emocionado, lembrando que já fui agraciado com outros importantes prêmios, tais como o Victor Civita 2001 – Professor Nota 10 e o Péter Murányi 2009 – Educação. É uma carreira vitoriosa, em todos os sentidos, construída com muita disciplina, labuta e dedicação. Ao terminar a minha fala, evoquei um trecho de “Tocando em frente”, bela canção de Almir Sater e Renato Teixeira, trocando, propositadamente a ordem ao final: “Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser feliz, de ser capaz...”. Espero que meus alunos compreendam isso da melhor maneira possível: ainda que alguns insistam em nos diminuir ou nos ignorar, a conduta à frente de nosso ofício deve falar por nós. Sempre! Afinal, somos todos capazes! Quiçá, capazes de sermos felizes!