2016 termina nas próximas horas e, sinceramente, vai deixar poucas saudades em mim! Amor e amizades findaram, provocando um turbilhão de emoções, nem sempre positivas. Algumas pessoas queridas se foram para a terra dos sonhos, deixando doces lembranças. Artistas queridas, como Debbie Reynolds, transformaram-se em estrela e ficarão para sempre na memória. Além disso, a situação política e econômica do país continua caótica e há aqueles que acreditam que os problemas são todos oriundos de Brasília. Tendo vivido em pelo menos quatro Estados da Federação no último ano (Amapá, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro) ouso afirmar que estamos longe de resolver nossas mazelas sociais. Para onde olho, vejo pessoas infringindo regras de trânsito, desrespeitando colegas de trabalho, “dando um jeitinho”, “furando” filas e fazendo coisas das quais haveria pouco ou nada para se orgulhar. Imaginamos, coletivamente, que os problemas são provocados sempre por outros, por “petralhas” ou por “coxinhas”, mas escamoteamos nossas próprias mazelas, nossos próprios erros. Façamos greves, manifestações, levantes, barricadas, chamemos a atenção da imprensa – falada, escrita, etc. – utilizemos as redes sociais para mostrarmos toda a nossa indignação. Só não nos esqueçamos de fazer o que deve ser feito, de agir corretamente sempre, de medir as palavras e não ofender a honra de ninguém, de devolver o troco a mais, de cumprir horários e compromissos assumidos. É fácil apontar os erros deste ou daquele, de dizer que os “nossos” roubaram, mas fizeram o que era preciso. Ruins são sempre os outros: feios, malvados, ladrões, malandros, selvagens, sem educação. Os “nossos” estão sempre certos, mesmo quando erram. Como é possível? A indignação é seletiva e não é apenas promovida pelos meios de comunicação. Quantos de nós realmente se preocupam com a situação do vizinho ou daquele parente que não vemos há anos e a quem nunca demos a mínima atenção? Muitas de nossas cidades não têm saneamento básico adequado, mas vemos muita gente ainda jogando lixo no chão, sem se incomodar com as consequências dessa atitude. Quantos defendem a paz em Alepo ou em qualquer outro lugar do planeta e não parecem se incomodar com a guerra travada todos os dias nas cidades e nos campos do Brasil e de alhures. Alguém aí se preocupa realmente com o destino das populações indígenas americanas ou vamos continuar apenas assinando petições virtuais e, dessa forma, sentindo menos dor em nossas consciências? Desperdício de água, falta de educação e de respeito, especulação imobiliária, sexo sem proteção, discriminação racial, preconceitos, abandono de idosos e/ ou de crianças: diga lá, meu irmão, quais são suas mazelas. Assim fica difícil pensar que 2017 será muito diferente de 2016: de nada vai adiantar, caros leitores, a roupa branca, os sete pulos nas ondas do mar ou as oferendas para Iemanjá ou qualquer outro Orixá. No próximo ano, espero ser alguém melhor do que fui em 2016, que eu seja mais respeitoso comigo e com o próximo, que eu me ame mais e que estenda esse amor aos que estiverem a minha volta, que eu seja mais paciente, que eu tenha menos preconceitos e que, sobretudo, eu saiba distinguir o que eu posso mudar e o que escapa à minha vontade e ao meu controle. Afinal, um novo ano exige, também, uma vida que seja realmente nova. Como recentemente lembrou a mim uma amiga “para se ter um Ano Novo são necessárias novas atitudes”.